A Bruxa
(Carlos Drummond de Andrade)
A Emil Farhat
Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.
Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que lêem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo?
E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.
Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?
Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.
Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem.
Este blog já foi só meu, agora tem um outro dono: Matheus, meu pequeno, que vem para transformar esse coração duro num coração bobão, sentimental e chorão.
sexta-feira, abril 06, 2007
terça-feira, abril 03, 2007
Roger Waters: The dark side of the moon - 24/03/2007

O que falar do Show de Roger Waters? Simplesmente não há o que dizer. Foi algo inesquecível ouvir os clássicos do Pink Floyd ao lado de fãs extasiados e de um belo show pirotécnico. Sinceramente, o segundo melhor show da minha vida, já que o de U2 é o primeiro e o dos Mutantes passa a ser o terceiro.
Lembrei de muitas pessoas durante a execução das músicas e Livio foi um dos amigos mais lembrados. Afinal, comecei a ouvir e conhecer o Pink Floyd após algumas " aulas" de bom gosto musical.
Mas tão marcante quanto o show foi a presença de uma pessoa que não me lembro o nome. Ela é filandesa, estava com o seu filho brasileiro assistindo ao show. Os dois bebiam juntos, fumavam juntos e, após o início do show, sacudiam a cabeleira juntos. Ela morou nos Estados Unidos em uma cidade próxima de Boston e, em 1974, quando o Pink Floyd lançou a turnê, o irmão havia prometido comprar os ingressos para o show. Todos os amigos dela compraram os ingressos e o seu irmão não o fez. Para ela, era um show esperado por mais de 23 anos e por isso mais do que especial. Tanto que ela "armou o mairo barraco" quando alg
uns espertinhos tentaram ficar em pé, na sua frente, e ela dizia: "me respeite que eu tenho idade para ser a sua avó! Esse é o show da minha vida! Esperei por ele por mais de 23 anos e não vai ser agora que alguém vai me atrapalhar". A mulher delirou e sacudiu a cabeleira como uma juvenil e era visível, em sua face, a expressão de felicidade. Ela não cansava de dizer: muito bom! Valeu a pena esperar!
uns espertinhos tentaram ficar em pé, na sua frente, e ela dizia: "me respeite que eu tenho idade para ser a sua avó! Esse é o show da minha vida! Esperei por ele por mais de 23 anos e não vai ser agora que alguém vai me atrapalhar". A mulher delirou e sacudiu a cabeleira como uma juvenil e era visível, em sua face, a expressão de felicidade. Ela não cansava de dizer: muito bom! Valeu a pena esperar!Enfim, Roger Waters: The dark side of the moon foi inesquecível não só pelo espetáculo, mas pela presença das pessoas desconhecidas que estavam conosco.
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