Feriado prolongado e aqui estou no Hospital acompanhando o desenvolvimento do meu filho. Ele está muito melhor, foi desentubado, saiu do CEPAP, está respirando sozinho, parou de receber leite pela sonda e já passou da mamadeira para o peito.
Percebo que Matheus está irritado aqui, não quer mais ficar deitado no berço, se irrita com tanto fio, com tanta gente mexendo nele. Estamos esperançosos que em breve estaremos em nossa casa, sob os nossos cuidados.

Pela primeira vez um médico abriu a possibilidade, mesmo que remota, de "home care". Fiquei abalado, quero levar meu filho pra casa mas sem mais ninguem para tomar conta dele. Não quero levar uma UTI semi-intensiva para o nosso lar.

Meu filho está com um tubo na boca, que fornece oxigênio; uma sonda também na boca, que passa alimento; um acesso no pé esquerdo para os antibióticos; um sensor no pé direito para medir a saturação; um sensor no peito, do lado esquerdo, para medir a frequência cardíaca; um sensor no peito, do lado direito, para medir a frequência respiratória; um sensor na barriga, do lado esquerdo, para medir a temperatura corpórea.
Difícil ver Matheus com tantos fios...

Me mande mentalmente coisas boas. Estou tendo uns dias difíceis
- Mas nada, nada de muito Grave
Dias escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade. Quando acordo, vejo que meus sonhos não passam disso, sonhos; e é assim que cada dia começa: desejando que não tivesse começado, desejando viver no mundo dos sonhos, ou transformar meu mundo real num lugar que eu possa viver, não sobreviver. 

(Caio Fernando Abreu)